Acredito que as minhas dúvidas possam ser as vossas duvidas. E as vossas dúvidas podem ser as
minhas e eu ainda não me tenha deparado com elas.
Posto isto, resolvi desafiar uma grande amiga, que conheci durante
o percurso académico, a escrever para mim/nós. A Tânia Barreto, Licenciada
em Terapia Ocupacional.
Uma criança observada por um Terapeuta Ocupacional, e uma criança
observada pela mãe ou pai, é vista de forma completamente
diferente. A terapia ocupacional é uma área muito abrangente, é toda
ela muito muito interessante, e, ao contrário do que muitos pensam, não se
trata apenas de uma terapia direcionada para criar ocupação – mas sim uma
terapia que observa e ajuda, se assim for necessário, na ocupação de cada um, e
ocupação é tudo o que fazemos no nosso dia-a-dia e nos permite ter qualidade de
vida.
Tudo surgiu porque o Santiago está numa fase em que não obedece a
nada do que lhe digo, e quando isso acontece é porque tive que gritar 12343739
mil vezes!!! Numa das visitas que a Tânia nos fez conversei com ela
sobre a "responsabilidade", quais seriam as tarefas mais indicadas
para a idade dele, apesar de que muitas ele já faz mas nem sempre as cumpre com
rigor.
Espero
que esta conversa seja útil para muitas de vós, para mim é sempre uma mais
valia poder conversar e esclarecer as minhas dúvidas com ela.
Vamos
a isto!
⬇✅
Mde3: Tânia explica-nos um pouco o que é a TO.
Tânia: De uma forma simplificada a TO é uma ciência que
observa o comportamento humano nas suas diversas atividades e as utiliza
como recurso terapêutico de forma a desenvolver, restabelecer ou melhorar as
suas capacidades funcionais. O objetivo principal da TO é que o individuo tenha
autonomia, independência e consiga desenvolver as suas potencialidades que estão
ou estiveram alteradas por alguma razão. É permitir que consigam ser funcionais
no seu dia-a-dia, mesmo que com limitações.
Mde3: Quais as áreas de intervenção da TO?
Tânia: A Terapia Ocupacional tem um âmbito de intervenção
bastante alargado, desde intervenção neonatal, condições resultantes de
diversas patologias como AVC´s, doenças
degenerativas, demências, saúde mental, grupos desfavorecidos e em desvantagem
social e muitas outras. São diversas áreas e contextos muito abrangentes.
Mde3: De que forma chegam às crianças?
Tânia: Olha, dependendo das idades, e das crianças claro,
cada pessoa é um ser individual….Mas a melhor forma de chegar a uma
criança é através do brincar, e a partir daí chegar ao ponto que queremos
trabalhar. Um dia destes falamos da importância do brincar se quiseres.
Mde3: Existem
métodos ou algum "modelo padrão" a seguir?
Tânia: Existem vários, recentemente li uns
artigos sobre o Método Montessori que dá
especial atenção à autonomia, liberdade e respeito pelo desenvolvimento natural
da criança que deve ser o centro da sua própria aprendizagem. Neste método
devem ser dadas às crianças ferramentas que lhe permitam desenvolver as suas
habilidades naturalmente e ao seu ritmo, não lhe impondo ritmos nem práticas de
aprendizagem.
É importante ainda ir dando a responsabilidade de realizar
pequenas tarefas, o reforço positivo, nas crianças é muito importante,
cria um sentimento de autonomia e reforça a autoestima.
Mde3: No caso do
Santiago e até mesmo do Mateus e da Flor, que tarefas posso incluir no
dia-a-dia deles?
Tânia: No caso da Flor e do Mateus, estão na idade em que já
imitam muita coisa que vêm os pais e o irmão fazer, aproveitares por ai o eles
realizarem essas tarefas que imitam e receberem um reforço positivo, como já
referi, que é importante. Os brinquedos espalhados na sala ou no quarto, se
tiveres um cesto ou uma caixa ensina-os a arrumar tudo lá dentro, em jeito de
brincadeira até, eles vão gostar de o fazer. Quando precisam de mudar a fralda,
pede para irem buscar a fralda por exemplo, para tirarem os sapatos e as meias
na hora do banho e pôr a roupa suja no cesto, o meu sobrinho com 18 meses já o
faz e acha super divertido. E tudo se torna um hábito ao longo dos anos, ir
tendo responsabilidades, sentiram que o que fazem é certo e deixa os pais
felizes e orgulhosos. Autoestima e responsabilidade a serem trabalhadas.
No caso do Santiago, a mesma coisa com os brinquedos, manter o
quarto arrumado, ajudar a pôr e levantar a mesa, tomar banho sozinho, fazer a
cama (puxar as orelhas aos lençóis 😉), ajudar a
regar as plantas, e porque não olhar pelos irmãos enquanto fazes o
jantar?
Obrigada 💙
Dúvidas que tenham podem sempre colocar.